O mestre Lindolfo e as Fitas de Carpinteiro
Do alto dos seus 73 anos, 54 dedicados à arte de bem cozinhar, parte deles partilhados com os portugueses através da RTP, o mestre Lindolfo conta-nos a inesperada estreia das afamadas Fitas de Carpinteiro na Viagem Medieval, já lá vão mais de dez anos.
“Tiveram um impacto negativo, não despertaram nem o interesse nem a curiosidade dos visitantes. O meu filho João andou pelo recinto a oferecer o doce a quem o quis provar”, recorda o mestre com um sorriso no rosto. Mas o mundo dá muitas voltas e, em pouco tempo, esta iguaria tornou-se um ex-libris gastronómico do evento.
Apesar de já não ser rapaz novo, Lindolfo Ribeiro tem passado todas as tardes na Viagem Medieval e faz questão de manter a tradição de confecionar as Fitas de Carpinteiro na sua tenda, instalada no Rossio. Garante que só o faz desta forma na Viagem. “Estar cá é diferente de tudo. Tenho um enorme carinho e simpatia pelas gentes da Feira”, confidencia-nos.
“Ando aqui por gosto”, esclarece-nos o mestre a sorrir, empenhado em dar continuidade ao saber-fazer da bisavó Brazalina – “teria ela hoje 153 anos se ainda vivesse”. E gosta de explicar a história deste doce aos seus clientes e visitantes quando o movimento é mais brando, o que é coisa rara.
Lindolfo Ribeiro recorda-nos os tempos em que a massa das Fitas de Carpinteiro era enrolada em canas de milho, entretanto substituídas por canas de bambu, para que as fitas se apresentem com um caracol perfeito, como se saíssem de uma plaina de carpinteiro. Depois, é só guarnecer o canudo crocante com um delicioso creme de ovos, recheio que em tempos idos chegou a ser marmelada.
“Gostava que esta tradição da minha terra, Cesar, e das Terras de Santa Maria não morresse”, diz-nos o mestre com um brilho nos olhos, enquanto corta dezenas de tiras para enrolar nas canas e fritar ali mesmo, à nossa frente e na horinha.
Qual o segredo para o incomparável crocante e doçura das Fitas de Carpinteiro? A forma como a massa é trabalhada, o ponto certo do creme de ovos, o saber-fazer na confeção desta iguaria que atravessou gerações… o amor à arte de bem cozinhar.
Parabéns mestre!